Texto de Shamus Cooke*
É verdade que Barack Obama e Mitt Romney têm muitas diferenças
políticas. Mas também estão de acordo em muitas políticas essenciais; o
suficiente para tornar os próximos quatro anos facilmente previsíveis, seja
quem for o vencedor. Eis cinco previsões baseadas nas mais importantes
convicções que os dois candidatos partilham:
1 - A guerra contra os sindicatos vai continuar. Os republicanos são
explicitamente contra os sindicatos, enquanto os democratas são a favor em
palavras, mas têm uma prática anti-sindical. A muito falada “Race to the Top”,
política educacional nacional de Obama, atinge diretamente os sindicatos de
professores – os mais poderosos sindicatos do país – atacando os direitos
adquiridos por tempo de serviço e restringindo salários e benefícios.
Também os
governadores democratas e republicanos, estado a estado, pretendem arrancar
gigantescas concessões dos funcionários públicos ou retirar-lhes os direitos
sindicais – a menos má política de exigir concessões (democratas) está apenas
um passo atrás do fim da negociação coletiva (republicanos).
À medida que a recessão avança, esta política bipartidária contra os sindicatos irá intensificar-se, qualquer que seja o presidente. O alvo é baixar os salários de todos os trabalhadores, já que, dizem eles, os sindicatos distorcem artificialmente o mercado laboral em benefício dos trabalhadores em geral; atacar os sindicatos é assim um ataque a todos os trabalhadores, organizados ou não, com o objetivo de reduzir os custos laborais das empresas, que ganham assim “lucratividade”.
À medida que a recessão avança, esta política bipartidária contra os sindicatos irá intensificar-se, qualquer que seja o presidente. O alvo é baixar os salários de todos os trabalhadores, já que, dizem eles, os sindicatos distorcem artificialmente o mercado laboral em benefício dos trabalhadores em geral; atacar os sindicatos é assim um ataque a todos os trabalhadores, organizados ou não, com o objetivo de reduzir os custos laborais das empresas, que ganham assim “lucratividade”.
2 - A
guerra contra o meio ambiente vai continuar. Ambos os partidos tratam a questão
ambiental da mesma maneira que o trabalho organizado. Os republicanos
degradam-no abertamente e os democratas fazem declarações pró-ambientais ao
mesmo tempo que praticam o oposto. Quem quer que vença as eleições continuará
vinculado aos combustíveis fósseis, continuará a promover as prospeções de
petróleo perigosas no Ártico e no Golfo, a causar estragos com a extração de
“gás natural”, a construir o oleoduto Keystone, ao mesmo tempo que pouco ou
nada fazem para construir a absolutamente necessária infra-estrutura energética
alternativa que iria criar empregos e esperança à Humanidade contra as
alterações climáticas. Obama e Romney recusam-se a tomar as medidas necessárias
para enfrentar as alterações climáticas porque fazê-lo poria em causa os lucros
das grandes empresas poluidoras. Nenhum dos candidatos presidenciais sequer
dará início a uma honesta discussão pública sobre o problema, fazendo assim com
que outros países sigam esse caminho, pondo-nos a todos em perigo.
3 - Wall
Street continuará a reinar. Durante os debates ficou claro que não era
necessária qualquer outra ação contra Wall Street. Mas os bancos estão maiores
sob Obama que na era de Bush, o que significa que continuam a ser “demasiado
grandes para falirem”, garantindo que haverá futuros resgates pagos pelos
contribuintes. A política da Reserva Federal não é controversa para
republicanos ou democratas: as taxas de juros baixas combinadas com a emissão
de largas somas de moeda – chamado de “quantitative easing” – têm ambas servido
os lucros dos bancos de Wall Street, ao mesmo tempo que todos os restantes
sofrem cortes nos salários e benefícios. Os empréstimos aos trabalhadores não
foram facilitados, enquanto os bancos e as empresas estão literalmente sentados
sobre biliões de dólares de reservas em dinheiro.
4 -
Cortes de austeridade nacionais após as eleições. O déficit nacional é
consequência do resgate aos bancos, às guerras externas e a décadas de
sucessivas reduções dos impostos aos ricos e às empresas. Obama e Romney
ignoram estes factos, e são a favor de reduções maciças de empregos e cortes
nos programas sociais que entrarão em vigor se republicanos e democratas não
chegarem a acordo sobre quantos bilhões de dólares de cortes vão aplicar (a
proposta de plano de corte de déficit de Obama seria de 4 bilhões de dólares;
Paul Ryan quer 6 bilhões).
E apesar
de Obama ter feito muito barulho sobre “cobrar impostos aos ricos” para ajudar
a combater o déficit, as mesmas promessas foram feitas nas eleições anteriores
e acabaram em nada quando ele mesmo manteve as reduções de impostos que Bush
promovera para os ricos. Fazer com que os ricos paguem impostos é a única
alternativa aos cortes, já que os trabalhadores pouco têm para pagar mais. Em
vez disso, Obama está usando o déficit para justificar cortes maciços do
Medicare, na educação pública, no subsídio de desemprego, e provavelmente
noutros programas da Segurança Social. O debate de Obama/Romney sobre o déficit
é, na realidade, uma discussão bem educada sobre como melhor cortar e queimar
programas sociais, ao mesmo tempo em que as diferenças são exageradas para o
bem das respetivas campanhas eleitorais.
5 - As
guerras externas vão continuar. Ouvir Obama e Romney a debater as guerras
externas foi muito semelhante a um debate do tipo Pepsi/Coca-Cola. Ambos amam
Israel, odeiam o Irã e a Síria, mentem sobre um calendário para o Afeganistão
(nenhum analista sério acredita que os EUA saiam do Afeganistão em 2014). Ambos
são a favor de continuar a bombardear com drones o Paquistão, o Iêmen e a
Somália,o que constitui obviamente crime de guerra. Ao mesmo tempo, ambos
acusam hipocritamente a Síria de “violações dos direitos humanos”. Em resumo,
ambos candidatos discutem como melhor empurrar o Médio Oriente e o Norte de
África na direção de uma guerra regional, sem receberem as culpas por isso.
Na
verdade, existem sim diferenças de política social entre o presidente Obama e
Mitt Romney. Mas as políticas descritas acima vão afetar profundamente todos os
trabalhadores dos Estados Unidos. O país não está numa recessão típica. A
maioria dos economistas concorda que, na melhor das hipóteses, os EUA podem
esperar uma “década perdida” de estagnação econômica – na pior, um duplo
mergulho na recessão/depressão.
As
políticas descritas acima estão desenhadas tendo em conta o pior cenário, com a
premissa de que para que o capitalismo se reestabilize, é necessário aumentar o
poder dos bancos e das empresas, que têm de perder quaisquer restrições em
relação à questão laboral, ambiental, e outras regulamentações, de forma a
aumentarem os seus lucros, em detrimento de todos nós.
Assim,
democratas e republicanos têm a mesma agenda na generalidade, uma agenda que
todos os trabalhadores deveriam considerar detestável, já que os ganhos das
grandes empresas são obtidos à nossa custa. Quando os trabalhadores se
organizam e vão à luta, como fizeram os professores de Chicago, todas as
ilusões nos democratas começam a desvanecer-se, porque as pessoas veem com os
próprios olhos que os democratas não só se recusam a ajudá-las, mas
opõem-se-lhes ativamente, tal como fizeram aos professores de Chicago.
Acontecimentos como este permitirão a emergência de um movimento real que ponha
em causa a agenda bipartidária dominada pelos grandes negócios.
Até que
os grupos de trabalhadores e comunitários se unam numa base alargada em ações
independentes contra a citada agenda bipartidária, seremos sempre arrastados ao
apoio a um dos dois candidatos, nenhum dos quais defende os nossos interesses
básicos.
(*)
Shamus Cooke é trabalhador do serviço social, sindicalista e escreve para o
Workers Action. Email: shamuscooke@gmail.com
Artigo publicado no Counterpunch (http://www.counterpunch.org/)
Artigo publicado no Counterpunch (http://www.counterpunch.org/)
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