Eu acho que o maior prêmio que um professor pode ter na sua vida profissional é ver o alunado se desenvolver ao longo do ano, e futuramente vê-lo realizado enquanto cidadão. Nietzsche não fugia a regra. Em uma época marcada por uma postura ríspida dos professores com os alunos fez Nietzsche se destacar pela sua cordialidade e sua personalidade afável. Aos 24 anos Nietzsche tornara-se Professor de Filologia Clássica na Universidade da Basiléia. Ele era um crítico ferrenho dos "homens teóricos" e defendia ardentemente que o conhecimento não deveria se separar do pensamento e da vida. Atualmente o Sistema Pedagógico Alemão segue as premissas de Nietzsche em relação a educação e identidade cultural. Sua atuação ímpar enquanto professor foi descrita por alguns de seus alunos e serve de inspiração para qualquer um que toma para si o desafio de ser EDUCADOR:
Louis Kelterborn escreve em suas Memórias: "Minhas relações pessoais com
Nietzsche duraram 10 anos, de 1869 a 1879. [...] Sua maneira de se dirigir aos
alunos nos era absolutamente nova e despertava em nós o sentimento de nossa
própria personalidade. Soube, desde o início, estimular-nos para que tivéssemos
um maior interesse pelo estudo, talvez mais ainda de maneira indireta, pelo seu
saber e pelo seu exemplo, do que de maneira direta, ao nos declarar, por
exemplo, que todo homem deveria pelo menos uma vez na vida se dar ao trabalho
de consagrar ao estudo um ano inteiro, fazendo da noite o dia, e que esse ano
tinha chegado para nós”. (p. 51 e 52)
Ele
não nos considerava em bloco, como uma classe ou um rebanho, mas como jovens
individualidades, Durante a conversa o professor Nietzsche procurava ouvir mais
do que falar; através de perguntas estimulava seu interlocutor a exprimir
livremente suas opiniões, mesmo quando se tratava de um de seus alunos. (pág.
51, 52 e 53)
Outro
aluno Traugolt Siegfried conta suas experiências durante seu convívio com
Nietzsche: "Cada um de nós tinha como ponto de honra estar à altura das
exigências de Nietzsche, e aquele que, por preguiça ou por ignorância, o
decepcionava recebia a censura de seus colegas. Sua gentileza e sua atenção
encorajavam os alunos a trabalhar e os incitavam a se exprimir livremente”. (p.
54)
O Pastor: “Um dia Nietzsche, depois de fazer um relato emocionante sobre o
processo de Sócrates e de sua defesa diante dos juízes, pediu a seus alunos
para virem recitar junto a sua mesa o discurso de Sócrates. Encorajado pelo seu
professor, o jovem pastor, ainda que com o coração batendo, decidiu tentar a
experiência, Conseguiu contentar completamente o seu professor, que,
amigavelmente, lhe sorriu. Nesse dia, disse-me o jovem pastor ‘eu me encontrei;
minha timidez desapareceu e agradecia ao meu venerado professor Nietzsche que
soube dar apoio ao jovem inseguro que eu era e despertar os meus dons’”. (p.
54)
Depoimento
(anônimo): "Era um homem de
poucas palavras, mas sua alegria era visível quando um aluno medíocre conseguia
um bom resultado. Cada um de nós ficava contente ao receber dele por um
trabalho oral a expressão: muito bem. Sua cordialidade, sua atenção incitavam
ao trabalho. Preparava os alunos para que soubessem falar espontaneamente, sem
recorrer às anotações. Demonstrava a todos a mesma delicadeza. Não deixava
transparecer nenhum desprezo pela massa de alunos indiferente, nem pelos mais
fracos ou menos dotados”. (p. 55)
“Se Nietzsche era parcimonioso nos elogios, usa
mais raramente ainda de reprimenda. [...] Nunca o víamos irritado, nunca
elevava o tom da voz, nem se alterava [...]”. (p. 55 )
Referência Bibliográfica:
DIAS, Rosa Maria. Nietzsche Educador - São Paulo, Ed. Scipione, 2003.
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